21 agosto 2006

MUSA INTERMITENTE

Mais uma da Nice. Sugiro que leiam em voz alta e, se conseguirem chegar ao final, sem perder o fôlego, me ensinem o truque.
Percebam também o sintetismo dos versos e a cadência desumana. Observem também mais uma foto da China.

MUSA INTERMITENTE

Qual é a mancha
Que me desonra?
Que avalanche
Me angustia?
Que abulia
Mexe comigo?
Que alforria
Não conquistada
Me submete
Nesta Cruzada?
Quem é a Força
Que me combate?
Que disparate
Me deixa louca?
De quem os moucos
Ouvidos fúteis?
De quem inúteis
Conversas rasas?
De quem o pranto
Que me transforma?
De quem a forma
Que me encanta?

De que garganta
Esta cantata,
Que me arrebata
E me fascina?
De quem a mina
De ouro e prata
Que me relata
O velho índio?
Que merovíngio
É descendente
Da antiga raça
Desse Graal?
Porque o medo
Desse segredo
Tão bem guardado
Pela Vestal?
Quem é a onda
Que me transporta?
De quem é o ombro
Que me suporta?
Quem é a rocha
Que não se move?

De quem a asa
Num vôo cego?
De quem o Ego
Que me ignora?
Quem é que ora
Com tanta fé?
De quem o pé
Que acaricia?
Quem é a água
Que se derrama?
Qual é a cama
Que me repousa?
Quem é que ousa
Ser meu mandante?
Quem é o amante
Que me recusa?
De quem a boca
Que me enlanguesce?
De quem os braços
Que me aquecem?
Quem é o césio
Que me dissolve?
Quem me devolve
A confiança?
Quem é que usa
O meu berrante?
Quem é a Musa
Intermitente
Que, inconseqüente,
Me faz feliz?
De quem os dentes
Na boca muda?
De quem o véu
Nos olhos cegos?
De quem os pregos
Nos meus sapatos?
Que peculato
Me causa horror!
De onde a dor
Que me perfura?
De quem as garras
Que me seguram?
De quem a louca
Risada impura?
De quem a pura
Risada louca?
De quem a teia
Que me aprisiona?
Quem é a aranha
Que vive nela?
De quem o negro
Velho casaco?
De quem o taco
De beisebol?
De quem o brilho
Azul da lua?
Quem é que atua
Naquele palco?
Porque o álcool
Nessa garrafa?
Porque se estafa
Pai de família?
E da vasilha
Não vejo o fundo?
Porque o mundo
Está tão mudado,
Que desse mundo
Não faço parte?
Eu quero em Marte
Plutão, Saturno
Ouvir noturnos
Da velha arte...
Quem é o barco
Que me naufraga?
Qual é o marco
Que me assinala?
De quem o sopro
Que me estimula?
De quem a chula
Conversa oca?
De quem as penas
Das asas sujas
Do negro óleo,
Como gangrena?
Qual é a prata
De compra e venda?
De quem a moeda,
De cunho estranho,
Que foi meu ganho
Em outra vida,
Quando bandida,
Morri matada?!
De quem a morte
Que me aguarda,
Dentro da farda
E do passaporte?
De quanto sangue
Precisa a veia?
De quantos fios
Precisa a teia?
De quantos rios
Precisa o homem,
Louco de fome,
Pra poluir?
Quem abandona
Velhos na rua?
Quem é a nua
Mulher que dança?
Dessa criança,
Quem é o pai?
Quem é que alcança
Um sonho louco?
Quem ama pouco
Não ama nada!
Em quantas fadas
Eu acredito?
De quem o grito
De orgasmo quente
Que, de repente,
Emudeceu?
Qual é a nota
Dessa sonata?
Qual o compasso
Da melodia?
Qual é a rima
Dessa poesia?
Qual é o aço
Desse punhal?
De onde a bala
Que me atinge?
Quem é a falange
Que me destrói?
Se mais não posso
Falar, engulo,
Tornando nulo
O que me dói...


Nice Barth
S. Paulo, 25 de julho de 2005.

Belezas naturais

Ouvindo trudia uma rádio de Piracicaba, ouvi um entrevistado, que estava organizando uma mostra de fotos antigas da cidade, dizer que havia viajado muito pelo Brasil e que achava Piracicaba uma das cidades mais bonitas deste país. Pelo jeito ele ainda não havia viajado ao exterior, portanto se limitou a comparar sua cidade às do Brasil. Fiquei matutando e percebi que, realmente, há lugares bonitos, nessa cidade, como a Faculdade de Agronomia e a Rua do Porto. No entanto, tirante estes dois lugares, considero Piracicaba uma cidade muito feia. Coincidentemente, recebi um e-mail de uma chinesa radicada nos EUA que enviou fotos da China. Paisagens aéreas. A partir de então considerei a China o país mais lindo do mundo. A postagem anterior mostra uma dessas fotos. Pensando um pouco mais, acho que Diadema, a cidade mais feia que conheço deve ter também seu cartão postal. Que não devem ser aquelas favelas, aqueles aglomerados de casas inacabadas, sem reboque que a gente vê aos milhares quando passa por ela. Deve haver um local à beira da represa(Lá tem represa?) que deve ser maravilhoso. E também a China, quando mal fotografada deve ter lugares horrorosos. Para terminar estas considerações extremamente extremas, digo o seguinte: Tudo depende do fotógrafo e dos nossos olhos. Pois não é que teve um fotógrafo que ficou famoso fotografando merda?!

Acho que outro ficou famoso fotografando a China. Vejam abaixo: