01 junho 2010

Sétimo dia e início do oitavo

O sétimo não foi bom. Muita febre, aversão à comida salgada. Parece que a quimio aumenta o olfato e o paladar fica mais apurado, sem contar o fato que não fumo mais. Vem a comida que é um alho só! À noite a febre passou e hoje, terça, vou receber as células tronco de minha irmã. Parece que a partir de então, o bicho pega! Aguardemos.
Para amenizar as notícias vou por uma poesia do Manuel Bandeira, aquele poeta que disse: "Vou-me embora para Pasárgada, pois lá sou amigo do rei. Terei a mulher que quero na cama que escolherei." É mais menos isso. Mas abaixo a poesia:

Pneumotórax (Manuel Bandeira)

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.