02 maio 2006

Adivinhe meu pensamento

A Brincadeira era a seguinte: um menino falava: "Adivinhe meu pensamento!" O outro dizia: "Ponha o dedo no chão e cu no vento!" Arnaldinho, o Dinho, já estava com o saco cheio dessa brincadeira quando o outro Dinho, o Alfredinho, chegou e fez a fatal pergunta: "Adivinhe meu pensamento!" O primeiro Dinho falou: "Pô, Dinho, essa coisa já encheu o saco. Vamos mudar a frase. Ao invés de Adivinhe meu pensamento, que tal, Adivinhe onde sua irmã está?." " E qual vai ser a resposta?" "Aí você escolhe. É uma brincadeira nova." "Responda você primeiro: Adivinhe onde sua irmã está?" "Está com a Lalá. Viu como é fácil?" "É mesmo. Vou andar por aí para testar, tchau." Então o Alfredinho chegou para seu grande amigo Toninho e mandou ver: "Adivinhe onde sua irmã está?" "Você também já tá sabendo? Todo o mundo tá sabendo? Vá procurar saber onde sua mãe está que você ganha mais!" E foi embora puto da vida. A Aninha foi a próxima: "Adivinhe onde sua irmã está?" "Você devia cuidar mais da sua vida, seu moleque, em vez de encher o saco da gente. Vá procurar saber onde sua mãe está, isso sim!" Alfredinho estava ficando cada vez mais desnorteado, pois sabia que sua mãe, à tarde, dava aulas de piano, nada mais honesto e nada mais chique, numa cidadezinha mineira daquelas. Portanto, continuou com a brincadeira nova. Chegou pro seu Osório, o barbeiro e amigo de todas as crianças e perguntou: "Adivinhe onde sua irmã está?" "Alfredinho, você ainda é muito jovem e não sabe muitas coisas da vida. Em 80% das famílias, há uma puta. Não é por isso que você deve vir aqui, justo hoje que meu aluguel venceu, para falar da minha irmã. Ela já tem a vida dela, está pagando o aluguel em dia. O fato dela ser puta é apenas um detalhe. Como vai sua mãe?" Cansado de brincar e vendo que a brincadeira era uma merda comparada à brincadeira do pensamento, resolveu voltar para a casa, lá encontrando sua mãe na cama com o Júlio César, grande aluno de piano e um grande amigo. Meio sem saber o que falar, aturdido pelo que viu e condicionado pela brincadeira que fez o dia todo perguntou ao Júlio César: "Adivinhe onde sua irmã está?" Calmamente Júlio César disse: "Deve estar lá na cozinha, trepando com seu pai." Seu Correa, o pai do Dinho era um grande professor de português.

Moral da história: Toda pergunta, merece sempre uma resposta. Se não for indireta, direta será. (Mesmeu, o filósofo triste)

The book is on the table

No século passado, mais ou menos em 1983,1984 me voltei ao estudo do inglês com uma excelente professora particular. A Lígia, irmã do Ricardo Galzerano. Estava craque nas gramáticas e bem avançado nas conjugações mais complicadas e voltava para casa carregado de exercícios e livros específicos para ampliar meu vocabulário. Nesta época, eu me lembro bem, teve lugar minha maior atividade de consertos e afazeres domésticos. Era um tal de eu consertar torneiras, trocar chuveiros, instalar novos lustres, tirar os novos e colocar os antigos, arrumar as antenas de TV, lustrar sapatos, lavar louça, organizar as fotos das crianças, arrumar minhas gavetas de cueca, etc. Tudo para não estudar inglês. A aula era semanal e no dia anterior eu fazia os exercícios correndo e lia o livro que podia, de manhã, no dia de aula, no trono. O jornal, neste dia, ficaria para a noite. Como não podia deixar de ser, deixei de ser aluno da querida professora e parei com o inglês. Felizmente o inglês falado não me fez falta, mas, o que aprendi naquela ocasião me deixou muito à vontade para ler tudo o que vai pela internet e pelos artigos técnicos voltados a minha área. Mas, o New York Times, esse não dá prá ler não. Porém, o que mais me entristece e é parte integrante da minha pesonalidade é a total inibição que tenho quando aparece uma oportunidade de falar com alguém nesta língua. Fico mudo e, quando falo qualquer coisa, sai tudo errado. E o pior é que, se eu fosse escrever o que deveria ter falado, sai tudo direitinho. Psicólogos, me aguardem. Existe aqui um cliente em potencial.