04 junho 2010

Nada de novo no front

Título homônimo do livro de Erich Maria Remarque, que preciso reler. Havia um professor do cursinho Universitário, nos idos da década de 60 que, ao demonstrar os teoremas de geometria utilizava a seguinte frase ao final da demonstração, frase que carrego comigo até hoje: "Ou seja, tudo se passa como se nada se passasse." Após as primeiras aulas, a classe toda repetia o refrão a um simples gesto do professor. Creio que se aplica bem aos últimos 3 dias desta nova experiência.

Devo receber transfusão hoje. Não é também novidade. Ah, o nome do professor era Gelson.
Meu almoço diário é uma sopa de feijão com macarrão e o jantar uma sopa de legumes. Tenham pena de mim e torçam para que os dias passem a ter 12 horas.

Estamos no 11º primeiro dia.

Tenho dificuldades de ficar mais tempo no micro em virtude da temperatura que oscila entre 19 e 20°C. Se fosse um pouco mais quente, eu poderia ficar trocando palavras pelo MSN. Porém, não consigo. Minhas pernas congelam. Vou por um cobertor hoje e fazer algumas experiências. Se der certo, podem me encontrar lá no MSN, logon Antonio_Aguiar.

SARAVÁ!!!!!!!!!!!!

03 junho 2010

Madrugada do Nono dia e início do Décimo

Após intenso treinamento, as guerras se tornaram mais objetivas, inclusive eliminando-se as balas perdidas. O flanco defensivo não errou nenhuma vez o alvo e o ofensivo continuou a se comportar de maneira digna. É certo que os combates foram menos intensos, embora de duas em duas horas, à tarde, à noite e madrugada adentro.
Hoje pela manhã recebi a visita da Lucy e de minha nora, a Bia. Foram momentos especiais, por deixarem a rotina um pouco de lado. A Lucy acompanhou a visita do médico, que deu mais algumas explicações. Uma delas é que estou tomando uma droga para que as células saudáveis da doadora não ataquem com muito vigor minhas células fracas. Outra novidade, esta ruim, contada pelo enfermeiro, é que, em certo período, vou ter que tomar banho de canequinha, é mole? Já tomei minha sopa no almoço, pois não estou suportando o alho do tempero da comida. A nutricionista falou que, a partir de amanhã, eu posso pedir comida sem alho. Uma boa!

Já que não tenho televisão, vou torcer pela Argentina e ouvir alguns jogos do Brasil via rádios da Internet. Caso a Argentina ganhe a Copa, a culpa pode ser imputada à Unicamp, que não me colocou num quarto com TV.

SARAVÁ!!!!!!!!!!!

02 junho 2010

Fim do oitavo dia e madrugada do nono

A bolsa das células mães de minha irmã (Deveria ser células irmãs) chegaram em torno de 18:00h(e não hs, hrs) e a transfusão durou mais ou menos meia hora. É um sangue muito límpido, coloração cereja, muito mais bonito que o sangue comum de qualquer transfusão. Daí a temperatura subiu até 37,7°C lá pelas 20:00h, mas de manhã estava normal. Esta madrugada passei em guerra com a comadre e a canequinha de fazer xixi, pois me deu uma hiperdiaréia. A palavra  guerra cabe muito bem no contexto, pois não foram todos os tiros que acertei na comadre. Houve ainda balas perdidas na tampa e também naquela parte em que a gente senta. Atentados de mesmo teor aconteceram outras vezes de madrugada  e agora pela manhã. No último combate, a Unicamp teve que chamar a SWAT para limpar a área(o banheiro). 

O transplante, é idêntico a uma transfusão comum. A partir dele é iniciada a guerra entre os componentes de meu sangue e os componentes do sangue da doadora. Eles dizem que o prazo para "pegar", ou seja para as células da doadora sujeitarem as minhas à uma capitulação definitiva é de 14 dias em média. Nestes 14 dias estarei sujeito a ocorrências de náuseas, vômitos, impossibilidade de me alimentar convenientemente devido a mucolite (tipo sapinho) e outras catástrofes similares. Portanto, se eu parar de escrever é para deixar os milhares de leitores deste Blog livres de histórias depressivas.
O paliativo é que nem todas as pessoas são iguais e eu posso ser aquele 0,1% dos 99,9%  que não terá mucolite. Outro ponto positivo é que a assistencia médica e do pessoal da enfermagem é de primeira linha. É uma pena que a cozinha não siga o mesmo padrão de qualidade.
CONCLUSÃO:
Se depois dos 14 dias as células mães vingarem, estarei curado e disponível para viver, até morrer de outra doença qualquer.

SARAVÁ!!!!!!!!!!!

01 junho 2010

Sétimo dia e início do oitavo

O sétimo não foi bom. Muita febre, aversão à comida salgada. Parece que a quimio aumenta o olfato e o paladar fica mais apurado, sem contar o fato que não fumo mais. Vem a comida que é um alho só! À noite a febre passou e hoje, terça, vou receber as células tronco de minha irmã. Parece que a partir de então, o bicho pega! Aguardemos.
Para amenizar as notícias vou por uma poesia do Manuel Bandeira, aquele poeta que disse: "Vou-me embora para Pasárgada, pois lá sou amigo do rei. Terei a mulher que quero na cama que escolherei." É mais menos isso. Mas abaixo a poesia:

Pneumotórax (Manuel Bandeira)

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.