02 junho 2010

Fim do oitavo dia e madrugada do nono

A bolsa das células mães de minha irmã (Deveria ser células irmãs) chegaram em torno de 18:00h(e não hs, hrs) e a transfusão durou mais ou menos meia hora. É um sangue muito límpido, coloração cereja, muito mais bonito que o sangue comum de qualquer transfusão. Daí a temperatura subiu até 37,7°C lá pelas 20:00h, mas de manhã estava normal. Esta madrugada passei em guerra com a comadre e a canequinha de fazer xixi, pois me deu uma hiperdiaréia. A palavra  guerra cabe muito bem no contexto, pois não foram todos os tiros que acertei na comadre. Houve ainda balas perdidas na tampa e também naquela parte em que a gente senta. Atentados de mesmo teor aconteceram outras vezes de madrugada  e agora pela manhã. No último combate, a Unicamp teve que chamar a SWAT para limpar a área(o banheiro). 

O transplante, é idêntico a uma transfusão comum. A partir dele é iniciada a guerra entre os componentes de meu sangue e os componentes do sangue da doadora. Eles dizem que o prazo para "pegar", ou seja para as células da doadora sujeitarem as minhas à uma capitulação definitiva é de 14 dias em média. Nestes 14 dias estarei sujeito a ocorrências de náuseas, vômitos, impossibilidade de me alimentar convenientemente devido a mucolite (tipo sapinho) e outras catástrofes similares. Portanto, se eu parar de escrever é para deixar os milhares de leitores deste Blog livres de histórias depressivas.
O paliativo é que nem todas as pessoas são iguais e eu posso ser aquele 0,1% dos 99,9%  que não terá mucolite. Outro ponto positivo é que a assistencia médica e do pessoal da enfermagem é de primeira linha. É uma pena que a cozinha não siga o mesmo padrão de qualidade.
CONCLUSÃO:
Se depois dos 14 dias as células mães vingarem, estarei curado e disponível para viver, até morrer de outra doença qualquer.

SARAVÁ!!!!!!!!!!!

8 comentários:

marianicebarth disse...

Jesus Cristo!!! Que madrugada, hein? Só li isto agora!

Falei com a Lucy primeiro, porque não estava ligado o skype e ela contou que o '3G' que vocês compraram já zerou a memória (que era para durar um mês!?! Como pode?! Terá alguma coisa errada?).

Depois falei com a Maria Christina, a doadora, que contou tudo o que você passou nesta madrugada, com palavras bem menos literárias do que as suas...

E contou também a parte dela, que também é interessante que se saiba, como informação:

1) que chegou ao hospital às 6:35h para entrar na máquina às 10h e que o médico só chegou ao meio dia;

2) que ficou na máquina quatro horas inteiras, em que o sangue dela era tirado por um braço e depois de passar pela máquina onde deixava as células-mãe, entrava pelo outro braço.

3) que quando o sangue parava de correr a máquina apitava e ela precisava apertar uma bolinha para restabelecer a circulação;

4) que não podia mexer o braço (nem mais nada) ao fazer isso.

5) que não sentiu nenhuma reação à retirada de seu sangue, nenhuma dor, apenas um cansaço muito grande pela imobilidade forçada durante tanto tempo e uma secura muito grande na boca, mas que não podia tomar água para não ficar com vontade de fazer xixi, pois não podia interromper o trabalho da máquina nem para isso (!);

6) que num momento já no final, teve uma taquicardia, a máquina apitou e a enfermeira correu, mas ela explicou à moça que tem prolapso e a taquicardia ocorre raro em raro desde que começou a tomar remédios para isso;

7) que pensava que todo esse desconforto não é fácil e que uma pessoa só se submete por uma outra a quem ama muito mesmo;

8) e que pensava o tempo todo no irmãozinho e no extremo desconforto pelo qual ELE estava passando e que isso transformava sua doação em puro amor.

marianicebarth disse...

E, por favor, não pare de escrever! todos nós estamos ansiosos por notícias. Não importa se são depressivas, pois onde qualquer pessoa faria um drama, VOCÊ CONSEGUE transformar o relato de suas mazelas em jóias de humor!

Nunca vi coisa igual! Você me surpreende cada vez mais!

caos e ordem disse...

Passei algumas horas sem procurar seu novo post e agora o encontrei já com 2 comentários.
Escreva e publique quando tiver disposição e o peso de sua cruz permitir.
Meu argumento para vc continuar a publicar é que será o primeiro transplantado a relatar passo a passo o que vai acontecendo.
Entendo que até aqui o Senhor venceu.
Que sua irmã seja abençoada pelo que está fazendo.
Pergunto se ela vai ter que retirar mais plasma ou uma vez só já resolve.
Força, saude, paz.

Antônio disse...

Se não resolver com esta quantidade, pode ser que tentem de novo com outra bolsa a ser retirada dela. Novo sofrimento, para os dois.

irmãcaçula disse...

SAIBA QUE ESTÁ MUITO BEM ACOMPANHADO NESSA INTERVENÇÃO..... E DESCULPE, tenho que escrever com letra MAIÚSCULA para GRITAR NA SUA "ORELHA", irmão querido.
DR. CHENG ENVIA SEUS MELHORES VOTOS DE PAZ E ESPERANÇA.... na certeza de que a misericórdia divina não desampara ninguém!

timtim disse...

É uma pena que o comentário no blog não é ao vivo e a cores. Queria que me vissem lacrimijando. Primeiro rindo da guerra do transplantado com a "comadre". Depois chorando emocionado, com a descrição minuciosa feita pela Nice, do passo a passo da colheita das células.
Que coisa maravilhosa é o amor! Se o amor entre irmãos é tão poderoso, o que dizer do amor do PAI por seus filhos?
Acho todos os comentadores deste blog muito sensatos, mas admiro, de modo especial, as intervenções do ZEca: "escreva e publique quando tiver disposição". Concordo com a Nice: o Aguiar sabe transformar um limão numa limonada. Quanto humor para relatar uma situação bem desagradável, a ponto de precisar chamar a SWAT da UNICAMP para limpar a área.
Muita força, muita confiança, muita esperança. Não sou só eu que digo, é a Lucy que repete a todo momento: DEUS É PAI>

marianicebarth disse...

Lembro-me quando estava em Sydney esperando dia a dia pelo nascimento da Rebecca e os dias se arrastavam...
E jamais vou me esquecer de vocês, meus amigos de sempre, comentando e esperando comigo todos os dias. Foi tão importante para mim ler os comentários! Sentia-me apoiada e mais forte e contava com vocês.
Sei que para o Deto deve estar acontecendo a mesma coisa. Seja a hora que for que ele entrar no Refulgir, vai encontrar um comentário novo de amizade e amor.

marianicebarth disse...

Dou um tempo para você acordar, tomar seu café da manhã (aliás, como foi?), tomar seu banho, receber suas visitas da manhã (Lucy e mais quem?), almoçar (o que veio hoje?), fico olhando para o relógio um sem número de vezes, digo que ainda é cedo, faço alguma coisa, olho o relógio, faço outra coisa, olho o relógio... E de repente não aguento mais. Corro para o computador (e como demora a abrir!), clico no atalho para Internet, entro no Refulgir e...
mesma post de ontem.

Como será que ele está? Como será que passou a noite? Mais guerra?
Suspiro, preocupada... outro suspiro...
Dei pouco tempo a ele... Vamos esperar mais um pouco - digo a mim mesma, não o bombardeie com comentários, de repente ele pode se sentir cobrado e "você" não quer isso! - É, - respondo - claro que não! Tá bom... (suspiro...) Vou fazer outra coisa.